As aplicações financeiras têm como objetivo preservar o capital do investidor e ajudá-lo a construir um patrimônio mais sólido e robusto ao longo do tempo, certo?
O problema é que essa teoria se mostra falha quando analisamos a aplicação mais popular do país, a caderneta de poupança.
Nos últimos 12 meses, o rendimento da caderneta de poupança foi de apenas 1,71%, segundo dados do Banco Central. Ao mesmo tempo, a inflação medida pelo IPCA (Índice Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 8,99% no mesmo período.
Isso significa que o investidor da poupança teve um retorno real negativo de 7,28% nos últimos 12 meses. Na prática, para cada R$ 100 aplicados, é como se a inflação tivesse corroído R$ 7,28, tirando boa parte do poder de compra do investidor.
Parece pouco? Pois faça o mesmo cálculo considerando um investimento de R$ 100 mil na poupança. Quem tinha essa quantia aplicada nos últimos 12 meses perdeu mais de R$ 7,2 mil em poder de compra no período. Muita coisa, não é mesmo?
Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research, vem alertando há muitos anos sobre a perda de poder aquisitivo do investidor da poupança.
“Em 2012, em uma entrevista concedida à revista ADVFN, eu alertei sobre os riscos de perda real (quando se considera a inflação) dos investimentos em poupança. Por incrível que hoje possa parecer, esta declaração foi considerada polêmica e um absurdo para a época. Tempos depois, esta questão se tornou uma unanimidade entre os educadores financeiros”, afirma.
CDI também perde feio para inflação
As aplicações em renda fixa pós-fixada atrelada ao CDI também tiveram um desempenho muito abaixo da inflação no último ano.
De acordo com o Banco Central, entre agosto de 2020 e agosto de 2021, o CDI rendeu 2,44%. Um CDB que paga 100% do CDI, portanto, rendeu exatamente esse valor bruto. Mas ainda tem o desconto de Imposto de Renda, que cobra uma alíquota de 20% para resgates em 12 meses.
Portanto, quem investiu em um CDB a 100% do CDI e retirou o dinheiro depois de 12 meses obteve um rendimento de apenas 1,95% no período, contra 8,99% da inflação medida pelo IPCA.
E a reserva de emergência?
Infelizmente, não há como escapar de aplicações atreladas ao CDI ou à Selic para montar a sua reserva de emergência.
Afinal de contas, o dinheiro dessa reserva deve ser alocado em um investimento pós-fixado, com liquidez diária e risco baixíssimo de crédito.
Isso quer dizer que, no cenário atual, a parte do seu portfólio destinada à reserva de emergência vai acabar rendendo menos do que a inflação, e não há como fugir disso.
No entanto, é fundamental que o restante do seu patrimônio esteja alocado em aplicações que garantam um retorno robusto no longo prazo, sempre acima da inflação. Desta forma, o ganho real negativo da reserva de emergência será compensado com os seus outros investimentos.
Como investir para vencer a inflação
Para proteger seus investimentos da corrosão pela inflação é importante ter uma carteira de investimentos diversificada, que tenha exposição à várias classes de ativos, respeitando seu perfil de risco.
Neste contexto, o portfólio poderá incluir alguns ativos que funcionam como reserva de valor, como o ouro e o bitcoin, que protegem o patrimônio da corrosão da inflação ao longo do tempo.
Quando o investidor possui uma carteira diversificada e convexa, com ativos que estão enquadrados na etapa correta do ciclo econômico, a tendência é que seu retorno de médio de longo prazo seja mais elevado e consistente, bem acima da perda provocada pela inflação.
“A minha mensagem é que você adote princípios de investimentos que te mantenham investidor por toda vida, tomando sempre cuidado com euforias, narrativas e atalhos. Pense em termos de gerenciamento de risco e invista pesado em conhecimento de base. Isto fará a diferença nos mercados”, conclui Rytenband.