Os últimos dias deste governo

Compreender um mandato é essencial para analisar o desempenho de um governo e prever suas chances de reeleição. Isso vale para qualquer cargo executivo: de prefeito a presidente. Esta história é sempre dividida em quatro fases críticas, correlacionadas aos quatro anos do mandato, refletindo o ciclo político padrão. 

➡️ Entenda como utilizar isso para planejar seus investimentos, no mercado e na economia real, ligando os pontos de como o otimismo ou pessimismo podem determinar o melhor timing para decisões.

🚨 IMPORTANTE SABER

Sou profissional do ramo de comunicação política com 25 anos de  análises eleitorais acertadas. Reconheço essas tendências com facilidade. 
São cenários que vão se consolidando e que, se você estiver embriagado pelos fatos recentes, pode não perceber. Na política, assim como nos negócios, o imponderável pode alterar equações. Mas é sempre ínfima essa possibilidade. 

Este é o exercício: ficar atento a essas mudanças e aos sinais que apresento a seguir.

AS QUATRO FASES DE UM MANDATO

1️⃣ NAMORO E EXPECTATIVA (ANO 1) 

No início de um mandato, prevalecem a esperança e as promessas.

Durante essa fase, o governo desfruta de um período de “lua de mel” com a  população e a mídia. Isso foi evidente neste governo Lula em 2023, quando, apesar das preocupações pós-eleição polarizada, a fase inicial favoreceu a paciência e o apoio do mercado e de investidores estrangeiros. Este é o  momento crucial para implementar medidas difíceis com baixo custo político.

2️⃣ REALIDADE BATENDO À PORTA (ANO 2) 

A administração enfrenta desafios e a eficácia das políticas começa a ser testada.

O desempenho, positivo ou negativo, torna-se visível para a opinião pública.
Exemplos históricos, como FHC I e II e Lula I e II, mostram que um bom desempenho facilita a reeleição. Em contraste, Dilma II e Bolsonaro enfrentaram  grandes dificuldades nesta fase. Este período é mais curto devido às eleições intermediárias, e atualmente estamos quase no fim desta fase.

3️⃣ ACOMODAÇÃO OU BUSCA DE NOVAS OPÇÕES (ANO 3)

Ocorre aqui uma avaliação profunda da performance do governo, logo após as eleições para presidentes da Câmara e do Senado. Essa é a fase  em que você precisará ficar mais atento. É onde tudo pode mudar.

Se os resultados são satisfatórios, a reeleição do atual governo se torna uma possibilidade concreta; caso contrário, começa a busca por alternativas. “Dilma II”  e “Bolsonaro” ilustram como um desempenho insatisfatório (em relação à popularidade) gerou a procura por novos candidatos. Foi nessa fase que o impeachment de Dilma foi acelerado e a elegibilidade de Lula foi decretada.

4️⃣ A CONSOLIDAÇÃO DA “MELHOR OPÇÃO” (ANO 4)

No quarto ano, ocorre a cristalização da melhor opção para o próximo ciclo eleitoral. 
A opinião pública já decidiu no ano anterior se manterá o governo atual ou buscará uma nova liderança, baseada na avaliação das alternativas disponíveis e no desempenho até então. Pesquisas mostram que, uma vez definido o próximo ciclo eleitoral, muito esforço gera pouco resultado.

Qualquer mudança brusca na quarta etapa é uma exceção, não uma regra.

O CALENDÁRIO DESAFIADOR

Desde o início do mandato, o governo enfrenta um calendário apertado e muitas interrupções. O tempo efetivamente produtivo é drasticamente reduzido devido a  recessos e eventos políticos:

Para um cidadão comum, um ano tem cerca de 250 dias úteis, totalizando 500 dias em  dois anos. Porém, para o governo, seguindo as particularidades de um calendário político, há cerca de 86 dias produtivos por ano, ou seja, 172 dias em dois anos.

Vamos entender melhor esse ponto:

  1. Redução do calendário parlamentar: Sugere-se eliminar os meses de meses de janeiro, fevereiro e julho. Esses períodos são considerados improdutivos, e não há necessidade de um recesso oficial para que os políticos deixem de trabalhar.
  2. Cortes de períodos eleitorais: Também é recomendado cortar os três meses que antecedem as campanhas eleitorais e o mês seguinte a elas. Durante esses períodos, os políticos focam exclusivamente em suas eleições ou nas de seus aliados, o que prejudica a produtividade.
  1. Jornada de trabalho em Brasília: Vale lembrar que, na prática, o Congresso Nacional funciona de terça a quinta-feira. Nos outros dias, muitos políticos retornam às suas bases em voos, focando-se em atividades que lhes interessam mais diretamente.

Devido a esses e outros motivos, é realista afirmar que um governo tem aproximadamente 172 dias produtivos nos dois primeiros anos de mandato.

RUÍDOS E POLÊMICAS

Além das inúmeras limitações do calendário, o governo atual decidiu se envolver em ruídos e polêmicas que desviaram o foco das questões importantes:

4.1 ruidos e polemicas
(Foto: Ricardo Stuckert/PR)

➡️Houve uma onda de notícias negativas e polêmicas que desestabilizaram a administração. Exemplos incluem a tragédia no Rio Grande do Sul, debates polarizadores e crises internas. 

➡️O presidente Lula se envolveu em várias polêmicas em 2023, como críticas ao Banco Central e aos juros altos, gerando conflitos e distrações desnecessárias. 

➡️Também houve declarações controversas sobre conflitos internacionais, como chamar de “genocídio” os ataques de Israel em Gaza e afirmar que tanto Zelensky quanto Putin são responsáveis pela guerra na Ucrânia.

PRODUTIVIDADE POUCO PLAUSÍVEL

O calendário político para os próximos meses não favorece uma recuperação dessa produtividade. O que vem agora são mais desvios e interrupções que continuarão a limitar a capacidade do governo de implementar políticas eficazes:

• Julho 2024: Recesso parlamentar, interrompendo atividades legislativas.

• Agosto, setembro e outubro 2024: Campanha eleitoral municipal em
1° e 2° turno, desviando a atenção e os esforços do governo.

• Novembro 2024: Descanso das campanhas eleitorais, um período
tradicionalmente improdutivo.

• Dezembro 2024 e janeiro de 2025: Articulação para campanhas para
presidência das duas casas: câmara e senado.

• Fevereiro 2025: Carnaval, descanso político e baixa atividade produtiva do governo

Com todos esses desvios pela frente, não será agora que este governo conseguirá ser produtivo. A contínua sequência de interrupções e a necessidade de focar em questões eleitorais e de articulação política diminuem ainda mais as chances de implementação eficaz de políticas públicas. A maior parte do tempo já foi embora, comprometendo seriamente a capacidade do governo de alcançar resultados tangíveis e recuperar a credibilidade junto à população.

A PACIÊNCIA DO ELEITOR

O eleitor brasileiro tende a ser conservador, baseando suas decisões majoritariamente na economia. No primeiro ano de mandato, ele espera pacientemente. No segundo, começa a questionar, e no terceiro, sua paciência se esgota. Esse comportamento explica por que prefeitos, governadores e presidentes têm, na prática, apenas 18 meses para demonstrar resultados efetivos.

IMPOSTOS: AUMENTANDO O NÍVEL DE EXIGÊNCIA

Este governo tem sido destaque nos noticiários pela criação e aumento de impostos. Embora essas medidas possam parecer, a princípio, não impactar a insatisfação do eleitor, essa percepção é equivocada. 

O aumento das alíquotas tem um impacto imediato na opinião pública de duas maneiras: a rápida percepção de perda do poder de compra e o aumento das expectativas em relação ao poder público. Quanto mais se paga, mais se exige. 

Recentemente, pesquisas começaram a medir esse descontentamento: o eleitor está exausto de sustentar uma máquina pública que continua a crescer. Esta expansão recente apenas adiciona mais motivos para a rejeição.

Sem poder contar com resultados concretos e imediatos, o descontentamento só se intensifica. Impostos são, por natureza, impopulares, e a falta de resultados tangíveis amplifica ainda mais essa impopularidade.

85% DO TEMPO JÁ ERA

O atual governo já utilizou 85% do tempo disponível para se provar. Com recessos e eleições municipais se aproximando, o período de real produtividade política se torna ainda mais restrito. A política volta a esquentar em março de 2025, após o recesso parlamentar e o carnaval. 

Neste momento, a opinião pública começará a questionar: “Como anda o Brasil?”. 
É o momento que a classe média termina de pagar suas contas de início do ano,  é onde as pesquisas de opinião refletem mais críticas ao status quo.

Até agora, discutimos fatos concretos e podemos começar a projetar cenários futuros, com os devidos cuidados mencionados. Ainda são necessários mais  alguns sinais para concretizar essa tendência. 

Dito isso, março de 2025 se apresenta como um período crucial. 

A opinião pública, em conjunto com o legislativo, judiciário e a mídia, iniciará uma avaliação minuciosa da administração atual. Caso o desempenho seja considerado insatisfatório, haverá uma busca por alternativas. Esse período coincide com a apresentação de novos candidatos, momento em que o cenário político tradicionalmente se ajusta, alinhando-se às novas lideranças no congresso. 

Um segredo dos bastidores das campanhas eleitorais: sabe aquelas séries de pesquisas persistentes, que são constantemente veiculadas nos noticiários? Elas têm início aqui, 18 meses antes da eleição, por volta de março do ano anterior ao pleito. É nesse momento que começam as especulações, com diversos elementos em jogo, sobre quem será o futuro presidente.

9.1 INFLEXAO MARCO 2025

🔴 PERSPECTIVAS

Em meu círculo profissional e em diversas conversas, observo que vários analistas já preveem que o atual governo não será o favorito para as eleições de 2026. Embora não esteja afirmando categoricamente, essa é uma projeção sustentada por diversos elementos. É evidente que o governo irá lutar e reagir, e que as circunstâncias podem mudar. Contudo, a tendência já está se formando. Essa previsão é baseada em uma combinação de fatores políticos, econômicos e comportamentais previamente mencionados. A opinião pública tende a buscar um novo caminho, possivelmente favorecendo um candidato pragmático com resultados concretos. Talvez um governador com um sólido portfólio de serviços a apresentar seja o escolhido.

🔴 O GRANDE PONTO

O fato é que de forma eleitoral, março de 2025 marca um ponto de inflexão, onde a convergência de fatores políticos, econômicos e sociais poderá redefinir a liderança política do Brasil. O mercado financeiro irá se ligar nisso e vai antecipar este cenário. A opinião pública começará a procurar um novo “herói” político. Este é o momento decisivo para qualquer postulante que deseja se consolidar, fique de olho nisso. 
Essa mudança de rumos e de convergência é necessária. Se o governo estiver bem, essa narrativa é renovada; caso contrário, ela é refeita com outro nome. Essa dinâmica é essencial para embaralhar o jogo político, criar liquidez e gerar novos acordos e negócios. O meio político pauta a economia a partir dessas mudanças e ajustes. 

O futuro da política brasileira poderá ser traçado a partir desse ponto crucial, e ficar atento a isso é vital para se antecipar nessa nova tendência.


ROBERTO REIS 
é um Analista Político com vasta experiência e reconhecimento. 
É o autor do renomado livro Vereador Voto a Voto e de diversos artigos voltados para o mercado com ênfase em política. Com uma carreira de 25 anos como publicitário, Roberto Reis previu com exatidão o cenário eleitoral de 2022, compartilhando suas análises precisas em sua rede social “X” e em palestras privadas para empresários.

Receba nossa

Newsletter

Novidades e informações importantes sobre a Convex

Relacionados

Preserve o Seu Patrimônio

Seja um Assinante Convex

Entre em contato para saber mais sobre nossas soluções e ferramentas para que você se torne um investidor global.