Resenha do livro: The Forgotten Depression 1921

“O herói de minha narrativa é o mecanismo de preços” Grant

Introdução

É comum estudarmos as crises históricas e lermos sobre como os governos se comportaram. Qual foi a resposta do banco central? Quais emendas foram aprovadas pelos legisladores? Houve algum pacote de estimulo liberado pelo executivo? E diante disso, surgem inúmeros debates sobre as abordagens utilizadas e quais eram e são as melhores decisões que podem ser tomadas em períodos de crise. No entanto, houve um evento como esses completamente diferente dos demais. Apesar disso, é um dos menos estudados, e se trata da depressão esquecida de 1920-21.

 

Qual foi o contexto?

Os Estados Unidos emergiram da 1º Guerra Mundial com uma enorme expansão econômica. O desemprego estava em apenas 1,4%. Enquanto a inflação e a produtividade aumentaram, uma prosperidade alimentou a demanda por entregas em tempo de guerra, o que deu um impulso ao crescente setor manufatureiro do país. Mas o custo de atingir esse crescimento era alto. O FED, criado em 1913 para administrar a oferta monetária, foi compelido a manter baixas taxas de juros pela necessidade de financiar operações militares. No entanto, após a trégua, a política monetária permaneceu relaxada, uma postura com o intuito de reduzir os custos da dívida pendente e facilitar uma mudança suave para condições de tempo de paz. Neste período, a taxação sobre a renda que tinha alíquota máxima de 7% no início da década, subiu para 77% sobre as rendas acima de U$ 1milhão.

Como resultado, a inflação aumentou sem controle. Os preços aumentaram a uma taxa anualizada de 18,5% de dezembro de 1916 a junho de 1920, aumentando mais de 80% durante esse período. O gráfico abaixo mostra a queda do poder de compra do dólar americano na década de 1920.

FORGOTTEN small

 

A situação dos EUA em 1920 era desastrosa. O desemprego saiu de 4% para 12%. O PIB caiu mais de 12%. A produção industrial caiu 32,5% em 1921 um declínio que perde apenas para a Grande Depressão. Ao mesmo tempo, os preços despencaram mais de 15% e o desemprego se aproximou de 12%. A taxa de falências triplicou. Os preços das ações despencaram – a Dow Jones Industrial Average caiu 47%

A inflação, portanto, que precedeu a depressão, foi uma de suas causas. A inflação distorce os preços, valores e a própria arquitetura de uma economia em expansão. A alta dos preços gerou especulação. O crédito facilmente acessível distorceu o mecanismo de descoberta dos preços.

Nas palavras do autor:

“Como o ano de 1919 falhou em entregar a esperada depressão pós-guerra, industriais, banqueiros e fazendeiros fizeram planos para uma economia ainda mais pujante. Certamente, muitos industriais investiram, alguns banqueiros emprestaram e a maioria dos fazendeiros plantavam como se mais inflação estivesse para acontecer. Quando aquelas expectativas colidiram com o crédito restrito, juros punitivamente altos e preços em queda, os industriais, banqueiros e agricultores recuaram.”

 

Qual foi a resposta diante de um cenário catastrófico desses?

Warren Harding, eleito presidente dos EUA em 1920, cortou o orçamento do governo pela metade entre 1920 – 1922. Ele diminuiu as alíquotas de impostos sobre a renda. A dívida pública nacional foi reduzida em um terço. A ação do FED, recém criado, foi imperceptível. Com isso, a recuperação econômica começou a ser vista já no verão de 1921. O desemprego caiu para 6,7% em 1922 e chegou a 2,4% em 2023.

Como escreve Grant: “As sucessivas administrações de Woodrow Wilson e Warren G. Harding enfrentaram a crise parecendo ignorá-la – ou implementando políticas que um economista médio do século 21 julgaria desastrosas. No entanto, no final de 1921, uma recuperação poderosa e cheia de empregos estava em andamento. Esta é a história da última depressão não medicada pelo governo na América”. As ferramentas econômicas consideradas soluções para recessões – gastos em serviços públicos, déficits governamentais e política monetária inflacionaria – não foram utilizadas.

Do outro lado do mundo, o Japão adotou uma postura diferente. A partir de 1920 introduziu os fundamentos de uma economia planejada, buscando manter os preços artificialmente altos, para não permitir a deflação. A liberdade de mercado diminuiu, o preço das commodities continuou alto e a inflação japonesa permaneceu acima do nível mundial por 7 anos. A indústria não evoluiu, e em 1927 o país vivenciou uma crise bancária severa.

 

Qual foi a lição deixada?

Economistas austríacos defendem que não foi apesar da falta de estímulo fiscal e monetário que a economia se recuperou da depressão de 1920 -21, mas justamente porque essas políticas foram evitadas. Murphy disse “Mesmo diante de choques massivos que exigem grandes ajustes estruturais, a melhor coisa que o governo pode fazer é cortar seu próprio orçamento e devolver mais recursos ao setor privado.”

O conceito utilizado para explicar a política da época – liquidacionista – significava simplesmente “lançar no mercado”. Nesse sentido, “liquidar” mão de obra, estoques, fazendas e empresas era uma maneira de permitir que o sistema de preços operasse para descobrir a configuração de salários, preços e valores de ativos apropriados para o reemprego de recursos ociosos na produção de bens mais exigidos com urgência pelos consumidores. Se esse ajuste de preço resultou acidentalmente em deflação, tudo bem.

A deflação não apresentou nenhum problema especial. Os observadores econômicos contemporâneos também não se preocuparam com o espectro moderno de uma espiral deflacionária descontrolada que poderia resultar da queda dos preços, alimentando as expectativas de novas quedas nos preços e induzindo os consumidores e empresários a adiar as compras por um futuro indefinido. As razões pelas quais eles ignoraram tal eventualidade eram óbvias. Em primeiro lugar, tal evento nunca havia ocorrido anteriormente sob o padrão ouro. Em segundo lugar, de acordo com a visão liquidacionista, a contração e a deflação do crédito eram o método mais rápido para realinhar os preços e custos monetários, em particular as taxas de salários.

Em resumo, o maior elogio que se pode fazer ao governo Harding é que ele não impediu uma recuperação inevitável.

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