Juros longos de dois dígitos refletem inflação alta e risco fiscal no Brasil

Os contratos futuros de DI longos ultrapassaram a faixa emblemática de dois dígitos, refletindo a inflação mais alta – e a projeção de juros reais mais elevados para combatê-la – e também a percepção de maior risco fiscal, segundo os economistas da FGV.

Os títulos do Tesouro Direto também já oferecem remunerações superiores a dois dígitos por ano. Até mesmo o título com prazo mais curto da prateleira, o Tesouro Prefixado 2024, ultrapassou a marca dos 10% a.a no último dia 9 de setembro.

Nesta quinta-feira (16), este título oferecia um retorno de 10,07% ao ano para os investidores.

Para você ter ideia do aumento considerável do prêmio nos últimos meses, no começo de fevereiro, este título pagava 6,42% para os investidores- o que significa um acréscimo de 3,65 pontos percentuais (p.p) de lá para cá. Veja abaixo o gráfico que mostra o aumento do prêmio desses ativos:

Logicamente, nos prefixados mais longos a taxa é ainda mais alta. Nesta quinta-feira, o Tesouro Prefixado 2026 pagava 10,41% ao ano, enquanto o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2031 pagava 11,04% ao ano.

Para a FGV, a inflação elevada, somada às incertezas fiscais, estão entre os principais responsáveis por este cenário de juros altos na renda fixa prefixada.

“O ano de 2022 terá eleições presidenciais e para o Congresso, e o entendimento de muitos é de que o governo buscará espaço fiscal na campanha pela reeleição do atual presidente. Isso, por sua vez, levaria ao limite as pressões sobre o teto constitucional de gastos, percebido pelo mercado desde a sua aprovação em 2016 como a grande âncora da solvência pública”, diz a entidade, em relatório.

De acordo com os economistas, o grande desafio do governo é determinar o espaço fiscal existente e utilizá-lo de forma eficaz para acelerar o crescimento econômico e reduzir as desigualdades sociais, mas tomando cuidado para não comprometer o equilíbrio das contas públicas.

Rentabilidade despencou em 2021

A reação do mercado diante das incertezas e o forte aumento dos prêmios de risco têm consequência direta na rentabilidade dos papéis que já estavam no mercado.

Como explicamos em um artigo publicado no início de setembro, a lógica é a seguinte:  digamos que o investidor tenha comprado no começo de agosto de 2021, por R$ 700, o título Tesouro Prefixado 2024 pagando uma taxa prefixada de 7% a.a.

Agora imagine que na metade de setembro de 2021, esse mesmo título passe a ser comercializado no site do Tesouro Direto com uma rentabilidade de 10% a.a.

Se você quiser vender seu título agora, ele valerá menos do que você pagou, concorda? Afinal, por cerca de R$ 700  já é possível comprar um papel que paga 10% ao ano.

É por isso que os títulos prefixados podem perder (ou ganhar) valor quando o investidor opta pela venda antecipada, dependendo da oscilação das curvas de juros.

Importante lembrar que esse movimento de incerteza e consequente desvalorização dos títulos vinha sendo antecipado pela Convex Research há algum tempo.

Com isso, a casa de análise optou por não recomendar aplicações em ativos prefixados do Tesouro Direto e montar uma exposição em bonds (títulos de dívida) norte-americanos, o que trouxe um retorno interessante para os assinantes e evitou perdas nos títulos brasileiros.

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