A corrosão do dinheiro: R$ 100 no início do Plano Real equivalem a R$ 12,87 hoje

A inflação nas alturas assombrou o país durantes décadas e até hoje é responsável por uma série de comportamentos presentes no subconsciente dos brasileiros, como a dificuldade de poupar e a necessidade de consumir imediatamente pelo receio de que os produtos fiquem mais caros.

Em 1994, o Plano Real conseguiu arrefecer a inflação que chegava a ultrapassar os 6.000% ao ano na década de 1980. No entanto, este fenômeno monetário continuou existindo no país e ao longo dos últimos 29 anos, a nossa moeda perdeu boa parte do seu valor.

Para se ter ideia, desde de o início do plano Real, em 1º de julho de 1994 até junho de 2023, a inflação acumulada no país atingiu 676%, segundo dados do Banco Central – usando como base o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Isso quer dizer que aquilo que podia ser comprado com R$ 1 naquela época, hoje precisa de pelo menos R$ 7,76.

Fazendo uma comparação bem clara, isso significa que o poder de compra do brasileiro caiu mais de 87% – uma nota de  R$ 100 equivale a um poder de compra de  R$ 12,87 na comparação com 1994.

O que provoca a inflação

A inflação de preços é um fenômeno monetário, ou seja, ela é provocada quando a oferta de moeda na economia aumenta sem que a quantidade de produtos e serviços cresça na mesma proporção.

É isso que tem acontecido nos últimos anos no Brasil, especialmente depois da injeção de liquidez na economia no auge da pandemis de Covid. “O aumento da oferta monetária está acontecendo em uma proporção muito superior ao lastro de produtos e serviços”, afirma Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research.

Para explicar de uma maneira resumida, ele cita um exemplo: imagine que para acabar com a pobreza no país o governo resolva imprimir dinheiro e doar R$ 1 milhão para cada família brasileira. Isso inundaria a economia de dinheiro novo, certo?

O problema é que a capacidade de produzir bens e serviços de um país não é determinada pelo dinheiro que está em circulação, mas sim por fatores como a quantidade de matéria prima disponível, a disponibilidade de mão de obra e pela tecnologia presente, entre outros.

Isso quer dizer que haveria muito dinheiro nas mãos das pessoas – o que provocaria um aumento de demanda -, mas a quantidade de produtos e serviços oferecidos não iria aumentar. No final das contas, todos iriam querer consumir mais do que antes, só que não haveria produtos suficientes. O resultado seria um aumento generalizado de preços.

Percebeu como a inflação de preços não é provocada por empresários ou por qualquer outro setor da sociedade, mas sim por um desequilíbrio econômico que desregula a relação entre oferta e demanda?

Foram justamente esses desequilíbrios que assolaram o Brasil durante muitos anos, principalmente durante a década de 1980 e o início dos anos 90 – e é isso que está se repetindo agora.

Na década de 1980, a inflação era tão alta que a moeda nacional acabou perdendo a sua característica de referência de valor e passou a ser rejeitada pela população. Era comum que imóveis e veículos, por exemplo, fossem anunciados em classificados com preço em dólar, uma moeda forte que não perdia valor de um dia para o outro.

Como se proteger

Para as pessoas físicas, a melhor maneira de se proteger é buscando investir em ativos que mantenham o poder de compra da moeda ao longo do tempo. Uma das opções são os ativos reais, como os imóveis. “Mesmo assim, já tivemos ocasiões em que o governo mudou as regras e prejudicou esse tipo de investimento, congelando o preço dos alugueis por exemplo”, afirma Rytenband.

Por isso, ele destaca que uma das maneiras mais efetivas de se proteger é diversificando as aplicações geograficamente. “Diversifique suas aplicações no exterior, em moedas fortes”, afirma.

Além disso, aplicações em ativos escassos como ouro e Bitcoin também tendem a proteger o dinheiro contra a corrosão dos preços, principalmente quando se considera o longo prazo.

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