Retorno acumulado de títulos públicos brasileiros despenca diante de incertezas

As incertezas econômicas em meio à pandemia de Covid-19, a crise hídrica e as fragilidades fiscais que o país vem enfrentando aparecem na precificação dos títulos públicos federais.

Com a forte alta das taxas de juros futuros, os títulos negociados pela plataforma Tesouro Direto apresentam desvalorização acentuada ao longo deste ano. Para se ter ideia, o título Tesouro IPCA+ 2045 acumula perdas de 21,11% desde o começo de 2021.

A segunda maior queda no ano pode ser vista no Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2031, que já recuou 15,24%, seguido pelo Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2029 (-13%) e pelo Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2027 (-10,46%).

Richard Rytenband, economista e CEO da Convex Research, vem alertando há algum tempo sobre as fragilidades da economia brasileira e a possibilidade de perdas no investimento em títulos públicos.

“Ficamos fora desses ativos e preferimos montar uma exposição em bonds (títulos de dívida) norte-americanos. Enquanto o Tesouro Direto vem apresentando forte queda, nossa exposição mostra um retorno bem interessante”, diz o economista.

Por que isso acontece?

A lógica por trás das oscilações de preços do Tesouro Direto é a seguinte: quando as taxas prefixadas registram alta nos títulos que estão à venda, o papel que você comprou com uma taxa mais baixa vai perder valor de mercado.

Por isso, tanto os títulos prefixados quanto aqueles que são atrelados à inflação apresentam variação diária de rentabilidade, conhecida como marcação a mercado.

Nos títulos de inflação, a fórmula de cálculo de rentabilidade utiliza a taxa prefixada como um dos elementos. Não vamos entrar no detalhe da fórmula neste texto, mas é importante que você saiba que quanto mais longo for o prazo do título, maior será a sua volatilidade (tanto para mais, quanto para menos).

Vamos exemplificar: digamos que você compre hoje, por R$ 1.000, o título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 pagando uma taxa prefixada de 6,77% a.a + IPCA.

Agora imagine que daqui a uma semana, esse mesmo título passe a ser comercializado no site do Tesouro Direto com uma rentabilidade de 7,5% a.a +IPCA.

Se você quiser vender seu título agora, ele valerá menos do que os R$ 1.000 que você pagou, concorda? Afinal, pelos mesmos R$ 1.000 já é possível comprar um papel que paga 7,5% ao ano.

Então é por isso que os títulos prefixados podem perder (ou ganhar) valor quando o investidor opta pela venda antecipada, dependendo da oscilação das curvas de juros.

Lembrando que essa rentabilidade só é concretizada caso o investidor realize a venda do título antes do seu vencimento. Se mantiver a aplicação até o final do prazo, a rentabilidade será a mesma que foi contratada na compra do título.

Conjuntura econômica

As taxas de juros futuras refletem as expectativas do mercado para uma série indicadores econômicos.

Quanto maiores as incertezas e fragilidades da economia, mais elevadas tendem a ser as taxas de juros – afinal de contas, o investidor enxerga os riscos e exige um prêmio maior para deixar seu dinheiro alocado quando o cenário é muito nebuloso.

Uma das principais preocupações atualmente é com a inflação. Em julho, a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,96%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com isso, a taxa acumulada em 12 meses chegou a 8,99%, bem acima do teto da meta do governo.

A crise hídrica também está cada vez mais acentuada e o baixo nível dos reservatórios tem ajudado a pressionar o IPCA. O motivo é o preço da energia elétrica, que tem sido responsável por boa parte da inflação no país.

Na tentativa de conter a inflação, o Banco Central voltou a aumentar a Selic, que já está em 5,5% ao ano, ajudando a pressionar as taxas de juros futuros.

Com toda essa conjuntura, o prêmio pelos títulos de dívida brasileiro dispararam, fazendo o preço dos papéis que já estavam no mercado despencarem na mesma proporção.

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